POR MAURO FERREIRA - BLOG NOTAS MUSICAIS
Resenha de show
Título: Teresa Cristina canta Candeia
Artista: Teresa Cristina (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Theatro Net Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 5 de novembro de 2013
Cotação: * * * *
Anunciado por Teresa Cristina em 2011, o projeto de dedicar um disco aos sambas do compositor carioca Antonio Candeia Filho (17 de agosto de 1935 - 16 de novembro de 1978) começou a ganhar forma concreta no Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 5 de novembro de 2013, com a estreia nacional do show Teresa Cristina canta Candeia. Parafraseando versos de Nova escola (Candeia, 1977), primeira das 31 músicas do roteiro, foi com o coração e com os pés literalmente no chão do palco do Theatro Net Rio que a cantora e compositora carioca reverenciou seu antepassado musical sob a luz da inspiração e sob a direção musical de Paulo Sete Cordas. Sem inventar moda que poderia tirar o foco da gênese da obra de Candeia, Teresa mostrou as várias faces do repertório deste compositor politizado cujo cancioneiro exalou orgulho negro, denunciou injustiças sociais, celebrou o próprio samba e falou de amor com lirismo, atravessando gerações como um dos mais valiosos tesouros do samba. Em vez de enfileirar sucessos, a cantora se permitiu até ignorar alguns deles - como Amor não é brinquedo (Candeia e Martinho da Vila, 1978), Filosofia do samba (Candeia, 1971) e Pintura sem arte (Candeia, 1978) - para dar voz a pérolas pescadas no baú. Somente os mais fervorosos admiradores de Candeia conheciam, por exemplo, o magoado samba Foi ela (Candeia, 1966), gravado pelo compositor em já raríssimo disco feito como integrante do grupo Os Mensageiros do Samba. Na companhia de oito músicos e de três vocalistas, que em sambas como Luz da inspiração (1975) remeteram ao canto d'As Gatas (grupo feminino bastante recrutado na década de 70 para gravar vocais em discos de samba), Teresa saudou Clara Nunes (1942 - 1983) - cantora mineira que lançou Anjo moreno (Candeia) em disco de 1972 - e celebrou a escola de samba Portela em bloco que aglutinou temas como Vem pra Portela (samba de Candeia e Coringa que somente em 1998 ganhou registro em disco), Samba na tendinha (Candeia, 1971) e Já clareou (Dewett Cardoso, 1975), capazes de animar qualquer quadra ou terreiro. Já a nostalgia contida no samba intitulado justamente Saudade (Candeia e Arthur Poener, 1972) exemplifica o lirismo que pautou boa parte da obra de Candeia em harmonia com uma consciência social que pregava a força da raça além do Carnaval (Dia de graça, Candeia, 1969) ao mesmo tempo em que denunciava crises sócio-econômicas em sambas como O invocado, que, embora seja da lavra de Otto Enrique Trepte, o Casquinha, ganhou a voz engajada de Candeia no antológico álbum Axé! Gente amiga do samba (1978). Teresa harmoniza todas essas faces da obra de Candeia sem sair do seu tom - o que torna o show linear lá pelo meio, quando entram em cena os sambas Sorriso antigo (Candeia e Aldecy, 1970) - mais associado ao cantor paulista Noite Ilustrada (1928 - 2003) do que ao próprio Candeia - e Me alucina (Candeia e Wilson Moreira, 1977). Mais festivas, Vai pro lado de lá (Candeia e Euclenes Rosa, 1971), Lá vai viola (Candeia, 1972) e Peixeiro grã-fino (Candeia e Bretas, 1978) animam a cena e lembram no roteiro o fato de Candeia ter sido partideiro de altíssimo poder de improviso, um batuqueiro capaz de compor afro-sambas como Zé Tambozeiro (Tambor de Angola) - parceria com Candinho, de 1978 - e um jongo vivaz como Sinhá dona da casa (Candeia e Celso Cardoso, 1974), um dos pontos altos do show e veículo para apresentação da banda formada por virtuoses como o cavaquinista João Calado e o percussionista Mestre Trambique. No fim, antes do bis em que Teresa e músicos fizeram O mar serenou (Candeia, 1975) de improviso, Testamento de partideiro (Candeia, 1975) ratificou a certeza de que Teresa Cristina é legítima herdeira do legado de Antonio Candeia Filho, ainda que a cantora já mostre - em shows e discos feitos sob a mesma luz da inspiração que a ilumina na ode a Candeia - que o seu universo musical já extrapola o terreirão do samba.
Postado por Mauro Ferreira às 23:28
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
domingo, 3 de novembro de 2013
A Hora do Poço ou A Boca do Céu
Por Isabelle Lindote - Rio Show - O Globo
>Ecologia sem didatismo*
Peça infantojuvenil tem como pano de fundo os problemas causados pelo aquecimento global
Há oito anos, impressionado com os noticiários sobre os problemas causados pelo aquecimento global, o ator Fabiano Boechat teve um estalo: decidiu se aventurar como dramaturgo e escreveu um texto que tivesse o assunto como pano de fundo para a história. Foi assim que nasceu “A hora do poço ou a boca do céu”, sua peça de estreia como autor e diretor, que entra em cartaz amanhã, às 16h, no Centro Cultural Banco do Brasil. Com supervisão de direção de Karen Acioly, com quem ele trabalha há quase sete anos em produções infantis, a montagem ganha os palcos com gostinho de sonho realizado.
— Não sou político nem empresário para fazer algo mais efetivo pela questão ambiental. Por isso, como artista e cidadão, achei que deveria contribuir escrevendo um texto que fosse para toda a família, com foco infanto-juvenil. Uma forma de ajudar na conscientização — explica Boechat, que também é diretor de produção do Centro de Referência Cultura Infância.
A peça se passa no futuro, quando a escassez de água e de natureza obriga todo mundo a usar o mínimo possível para sobreviver. É quando os adolescentes Rapazinho (Thiago Magalhães) e Marina (Vitória Frate) saem em uma aventura lúdica cheia de esperanças e sonhos.
— Levantamos questões importantes de forma criativa e sem excesso de didática. Se fosse um filme, a montagem seria um road movie, uma saga em busca de uma vida melhor —finaliza.
(por Isabelle Lindote)
*Matéria publicada na edição do Rio Show de 01/11/2013.
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